segunda-feira, 31 de março de 2008

FALCON, Francisco. “O capitalismo unifica o mundo” In.: REIS FILHO, Daniel Aarão et alli. O século XX: o tempo das certezas. Rio de Janeiro, Civiliza

Falcon vai dar início a sua obra explicitando o mecanismo do processo de unificação do mundo através de uma forma de produção e economia e todas as dúvidas, tanto teóricas como didáticas e receios quanto aos leitores e suas leituras, para elaborá-la. Porém, ao longo do texto, ele tenta resolver essas questões de maneira mais exeqüível, montando o Capitalismo como plano de fundo da História Contemporânea e, assim, analisando-o através de todos os seus prismas.
O século XVIII, para Falcon, será marcado por duas transformações, a Revolução francesa e a Revolução Inglesa, que irão afetar o mundo de tal forma, que suas conseqüências respingarão toda uma sociedade mundial, permanecendo durante muito tempo como inspiração para várias outras transformações, tão marcante ou menos. Dentro desse âmbito, irão ser levantadas, ao longo da obra, duas questões, que serão: a indagação do surgimento do capitalismo no século XVI, podendo ser marcado com a expansão marítima, o comércio de escravos e a interligação de várias nações, porém Falcon vai contra-argumentar que nessa época há elementos capitalistas, mas não uma sociedade capitalista de fato, e um dos grandes motivos será por ter a marca da escravidão. Com isso, ele vai reafirmar o surgimento do mesmo, a partir do século XVIII, explodindo com a Revolução Industrial.
Falcon irá analisar o desenvolvimento do mercado internacional, que irá aproximar culturas das mais diversas, através das disputas anglo-francesas, cujos cenários decisivos foram as Américas e a Índia, envolvendo colônias, entrepostos comerciais, rotas e tráficos. Essa descrição, apesar de bastante simplificada, evidencia a existência de conexões mercantis e financeiras que ultrapassavam em muito os espaços regionais, tratando de uma economia-mundo cujos centros se encontram na Europa, onde o Capitalismo irá dar seus primeiros suspiros. Esse exemplo da França e suas colônias, vai explicitar o que o autor vai evidenciar, em uma das passagens do texto, que não é a existência de um mercado que vai tornar uma sociedade e uma economia capitalista, o que irá tornar vai ser um tipo específico de mercado dentro de uma determinada sociedade, ou seja, a França terá uma sociedade capitalista com sua economia colonial, porém a “colônia” não vai formar uma sociedade capitalista, mesmo participando do mercado, por não ser uma nação formada.
Essa sociedade capitalista colaborou com o desenvolvimento desse sistema, pois permitiu o aumento da demanda dos elementos básicos para a vida, como roupas, alimentos, etc. Nesse aspecto, podemos remontar a Revolução Industrial, criadora de toda essa mentalidade social, como uma mudança que traz grandes transformações nos modos de produção e relações de trabalho, com o surgimento do salário e as 16 horas semanais.
No início do século XIX, tendo como base toda essa mudança, irá surgir uma súbita vontade pela liberdade, e com ela o liberalismo, que montará uma série de lutas por um reconhecimento, perante a lei. Conseguidos tais direitos, esses que lutaram por uma liberdade, como sempre elitistas, irão restringir os direitos a benefício próprio, fazendo do direito cidadão uma questão censitária. Nessa esfera ambiciosa, surgirá a vontade da construção de uma nação; porém problemas culturais e políticos irão surgir, com a reconstrução de uma língua nacional, de uma literatura, da própria cultura e principalmente, da História nacional.
Falcon vai deixar bem nítido as grandes diferenças na Europa, não era um continente homogêneo; havia a cada país uma série de diferenças, não só culturais e políticas, como territoriais também. Mas o seu objetivo era mostrar o Capitalismo como iniciador de uma unificação mundial, uma globalização entre culturas e entre modos de vida; objetivo claro para nós ao nos deparar com uma série de produtos vendidos a nosso alcance.

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade.

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia das Letras, 2007. Introdução: “Modernidade – ontem, hoje, amanhã” p.24-49.
Berman vai abordar a Modernidade de uma forma peculiar, a tratando mais como uma ideologia, do que como uma etapa temporal; demonstrando que é cheia de ambigüidades e contradições.Vai dar início ao texto falando sobre o “tempo vital”, onde se encontra um apanhado de experiências, como as do tempo e espaço, de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos da vida; o que hoje é compartilhado por todos no mundo, e é esse grupo de experiências, que vai ser designado como Modernidade. O “ser moderno”, para Berman, é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas ao redor, mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo que sabemos e tudo o que somos. A Modernidade vai ter o dom de unir a espécie humana, porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade desunida; porque ao mesmo tempo em que ela destrói fronteiras sociais e geográficas, ela nos despeja todos numa permanente desintegração e mudança de luta e contradições; por isso, ser moderno é fazer parte de um universo, como dizia Marx, onde “tudo que é sólido desmancha no ar”.Em cinco séculos, a Modernidade, desenvolveu uma rica história e uma variedade de tradições próprias. E de que modo essas tradições podem nutrir e enriquecer nossa própria Modernidade, e como podem empobrecer o nosso senso de que seja ou possa ser ela? É isso que Berman vai tentar responder ao longo do texto. Essa ideologia paradoxal tem sido alimentada por muitas fontes que geram uma série de conseqüências pesadas, como as grandes descobertas nas ciências físicas, a industrialização da produção, etc. Berman, para tentar melhor explicar esse fenômeno, vai dividi-la em três fases:Primeira fase (vai do séc.XVI até o fim do séc.XVIII): Nessa, as pessoas estão apenas começando a experimentar a vida moderna; mal fazem idéia do que as atingiu.Segunda fase (séc.XIX): Essa tem início com a grande onda revolucionária de 1790, ganha vida de maneira abrupta e dramática (devido a Rev. Francesa) um grande e moderno público, que vai partilhar o sentimento de viver em uma “era revolucionária”, que gera explosivas convulsões em todos os níveis de vida, mas ao mesmo tempo, esse povo ainda lembra do que é viver material e espiritualmente; e é essa sensação de viver em dois mundos simultâneos, já que o mundo não é moderno por inteiro, que emerge e desdobra a idéia de modernismo e modernização.Terceira fase (séc.XX): Nessa, o processo de modernização se expande a ponto de abarcar virtualmente o mundo todo, e a cultura mundial do modernismo em desenvolvimento atinge espetaculares triunfos na arte e no pensamento. Por outro lado, à medida que a modernização vai se expandindo, o público moderno se multiplica em uma multidão de fragmentos, que falam línguas diferentes e que produzem culturas diferentes. Com isso, a idéia de Modernidade, concebida em inúmeros e fragmentários caminhos, perde muito da sua nitidez, ressonância, profundidade e sua capacidade de organizar e dar sentido a vida das pessoas; em conseqüência disso nos encontramos hoje, em meio a uma era moderna que perdeu contato com as raízes da sua própria modernidade.O autor vai apresentá-la em seus pontos positivos e negativos, e vai nos mostrar que a sua principal característica é a de que nada é eterno. Partindo desse pressuposto, vai dar como conseqüências dessa constante transformação, a modernização dos espaços humanos (as cidades), a criação dos automóveis e a própria mente e alma do ser humano; tudo isso, com embasamento na grande Revolução Industrial, que serviu como uma marcha de avanço geográfico, social e político no mundo (como o alargamento das ruas, maior número de pessoas circulando nas cidades e estabelecimento de salários).Essa mudança, transformação, e a rapidez da passagem de tempo e envelhecimento da evolução, vão aumentar a sensibilidade do homem moderno, exigindo uma renovação da alma e do pensamento humano, espelhando na arte moderna, que vai ser o ponto culminante para o homem expressar toda a sua sensibilidade e refletir suas mudanças externas e internas. E essa arte moderna, denominada Modernismo, vai ser um conjunto de experiências estéticas , que trazem a Modernidade como tema, tratando o seu relativo tempo com certa peculiaridade, mas sempre com perspectivas positivas.
O autor vai se utilizar, também, de Marx e Nietzsche para tentar explicar como o homem testemunha a Modernidade e ao mesmo tempo é um agente dela. Mas, de fato, o que ficará bastante explícito é que a Modernidade não é só um período de escravidão do homem a favor do capital, mas sim um problematizador de todo o século XIX em sua contradição, que é a mesma que moverá o mundo pra frente.